Gaslight e negligência médica: violência e despreparo no atendimento médico de grupos minorizados

O termo ‘medical gaslight’ (gaslight médico) começou a ser utilizado nos EUA recentemente para tratar das práticas machistas e racistas no ambiente de saúde, resultando em maior número de diagnósticos errados ou atrasados para mulheres e pessoas negras. Esses grupos têm, portanto, maior probabilidade de terem seus sintomas menosprezados, por conta de uma concepção errada de que têm mais tolerância à dor e, por isso, há menor uso de analgésicos e anestesia em procedimentos, além de sofrerem práticas abusivas e desrespeitosas. 

No Brasil, dados e pesquisas revelam que a realidade é ainda pior: o racismo institucional está presente nos hospitais, consultórios médicos e odontológicos, pacientes negros|as podem demorar mais para serem atendidos|as, as consultas são mais rápidas e acontecem sem contato físico ou diálogo olho no olho. Os relatos de discriminação são muitos e também acontecem pela falta de informação sobre o corpo negro, de pessoas intersexo, pessoas trans, pessoas gordas e outros corpos que fogem do padrão estabelecido pela medicina.

Para as mulheres negras, essas violências se interseccionam e se transformam no que é chamado de racismo obstétrico. De acordo com dados obtidos pela Gênero e Número junto ao Ministério da Saúde, via Lei de Acesso à Informação, nos últimos 10 anos, a taxa de mortalidade de mulheres pretas no parto foi duas vezes maior do que a de brancas. E de acordo com a pesquisa "A cor da dor: iniquidades raciais na atenção pré-natal e ao parto no Brasil", as mulheres negras têm maior risco de sofrer violência obstétrica, ou seja, práticas realizadas durante o parto que causam dor física ou psicológica.

Dados da Fiocruz também mostram que mulheres negras são mais propensas a ter um pré-natal inadequado, realizando menos consultas do que o indicado pelo Ministério da Saúde, recebem menos orientações sobre complicações no parto e recebem menos anestesia durante o corte no períneo.

É urgente que as pautas de equidade e inclusão façam parte da formação de profissionais de saúde e sejam contempladas nas instituições médicas, assim como é necessário políticas públicas e ações afirmativas para a entrada das populações minorizadas nessas áreas.

Ilustração da imagem: Marta Monteiro/The New York Times

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